Dia 28 de setembro de 1928.
Enclausurado num monastério, em Madrid, estava um sacerdote de 26 anos, remexendo e fazendo anotações em seu diário.
Acabara de rezar a missa, preparava-se para meditar, quando de repente, levantou o rosto e se perdeu numa visão, um infinito. Segundo a Igreja, o que aconteceu desde então foi um milagre.
Este sacerdote Josemaría Escrivá de Balaguer, que mais tarde relatou o que seus olhos haviam visto. Uma iluminação de Deus.
Foi o primeiro passo para a criação da Obra Divina, no latim, Opus Dei.
Para milhares de católicos, é um dos fenômenos mais admiráveis da Igreja Contemporânea, para outros, o grupo desperta sentimentos que partem principalmente da desconfiança, é um grupo implacável, com objetivos impiedosos e autoritários.
Mas, vamos com calma... Por partes, como diria o esquartejardor.
Escrivá conta que seus olhos contemplaram a visão de homens e mulheres espalhados pelo mundo, realizando a “Obra de Deus”, mudando o rumo da história, salvando a humanidade, e assim, logo compreendeu que a missão que Deus lhe dara a partir daquele momento era tornar real aquela visão.
Ideia bem arquitetada, ou não, era mesmo revolucionária e pertinente, pois naquela época a Igreja estava dividida, de um lado estava o clero, do outro, os “cristãos comuns”, aqueles que bastavam ir ao confessionário uma vez por semana e seguir feliz, com a paz do Senhor.
Mas, para Josemaría, o verdadeiro cristão tinha que procurar a divindade em cada detalhe da sua vida, com a família, com os amigos, companheiros de trabalho, desconhecidos, enfim, todos. Como se Deus tivesse olhando a todo momento (não é a toa que ele é onipresente, certo?!) e além de olhando, julgando cada atitude.
Mas, e aí? Como espalhar essa ideia magnífica pelo mundo?
“Simples”, meus queridos...
Bastava no início criar uma linha de “super herois” com profunda formação nas doutrinas cristãs, e por último, mas não menos importante, uma total obediência ao papa.
Ao contrário dos monges e freias “atrasadões”, eles deviam mudar, mergulhar na sociedade, transformá-la de dentro para fora.
Enquanto dirige seu táxi pela cidade, atende os clientes da sua loja, ou simplesmente posta em seu blog. Os membros do Opus deviam fazer uso do lema que Escrivá os passava: “Seja santo. Santifique-se no seu trabalho. E santifique os outros com seu trabalho”.
Início Conturbado
Como qualquer força revolucionária (o que não deixava de ser), a Obra, assim chamada com intimidade, teve um início difícil, pois em 1936 começaram os horrores da Guerra Civil Espanhola.
As tropas de esquerda, que tinham a Igreja como um dos piores inimigos, incendiaram templos e massacraram milhares de padres e freias. Para sobreviver e levar adiante o seu “projeto”, Escrivá teve que se esconder com seus pupilos, na embaixada de Honduras, em Madri. Depois disso, fingiu-se de louco por 5 meses para abrigar-se num manicômio.
Um ano depois partiu para a França, com os primeiros adeptos, numa jornada pelos montes Pirineus - nem preciso ressaltar que foi a pé, né?!
Somente 2 anos depois, o bom filho à casa torna, o Opus volta à Espanha, quando Franco derrota os comunistas e torna-se ditador.
Josemaría Escrivá de Balaguer, morre em 1975, considerado um ser quase mitológico, talvez um semi-deus (Jesus deve ter se irritado com isso, hein).
Opus e Concílio Vaticano 2º
Depois de 40 anos, em que a organização defendia seus ideais, o Concílio Vaticano 2º, convocado pelo papa João 23, em 1962, com o objetivo de tornar o catolicismo mais adequado aos tempos modernos, lança o “chamado universal à santidade”.
Escrivá, portanto, reprovou algumas coisas após o concílio, e a organização chegou a ser denunciada à Congregação para Doutrina da Fé – antiga Inquisição – e por pouco não foram julgados.
O fundador do Opus achava que a liberalização da Igreja estava indo longe demais, as mudanças na liturgia teriam deixado profundamente irritado. Até os anos 60, a missa era rezada em latim, e com os padres de costas para os fieis, após o concílio, ela passou a ser celebrada no idioma de cada país, com padres e fieis frente a frente. De toda forma, o Opus Dei conseguiu uma licença para se ater ao rito antigo.
O que mais irritara Escrivá foi a abolição do Index Librorum Prohibitorum, ou “Índice dos Livros Proibidos”, do século 16, considerados perigosos para a fé e moral dos cristãos.
Após o Concílio Vaticano 2º, aquele grupo que entrara visto como uma força jovem e liberal da Igreja, era visto como a ala mais conservadora e rabugenta do catolicismo.
Seguidores e a auto flagelação
Quem não lembra da cena do filme O Código Da Vinci?
Silas, o “monge” do Opus Dei, retratado no filme, entra em casa, se ajoelha e tira as roupas, a princípio espia a coxa, onde está o cilício (aquele “aramezinho” com pontas de ferro que pressionam a carne), e insatisfeito com as manchas que aquilo o deixou, ele o aperta ainda mais sob a carne. Pega, depois, o chicote, e golpeia violentamente suas costas.
Até os críticos mais impiedosos concordam que a cena é extremamente exagerada, primeiro por não existir monge no Opus Dei – eles vivem isolados, esqueceram?!
O instrumento usado pela Obra é uma pequena corda com nós, que chama-se “disciplina” e não deixa marcas na pele.
Hoje em dia, a história de matar o pecado pela raiz, pois o corpo é vespeiro de tentações, não é mole de engolir, não, mesmo entre os próprios seguidores.
Mas, quem não lembra da freira albanesa, Prêmio Nobel da Paz por seus trabalhos junto aos pobres da Índia? Sim, madre Tereza de Calcutá!
Ela via na mortificação uma maneira de compreender e compartilhar as tristezas dos miseráveis...
O cilício é comum até hoje entre ordens religiosas como as Carmelitas Descalças e os Irmãos Franciscanos da Imaculada Conceição.
Essa é apenas uma das diversas acusações dirigidas à organização, e muitas são encaminhadas por grupos de ex-membros... O grupo americano Odan, o espanhol Opuslibros e o brasileiro Opuslivres.
Se infiltrando em governos mundiais
Você já ouviu os supostos planos, acusações e desejos de muita gente, que é dominar o mundo, certo?! Então, vocês acham que eles se livraram? Oh dó...
Padre Vladimir Ledochowsky, chefe dos jesuítas, na década de 40, enviou um memorando para o Vaticano, nele, o padre elogiava uma nova ordem de bons cristãos, criada na Espanha, que se preocupavam com a religião, no entanto, era notória a real mensagem e preocupação que fez ele contatar o papa, achava que o Opus tinha “o desejo secreto de dominar o mundo”.
Ledochowsky, não propositalmente, iniciou uma briga que dura até hoje, entre o Opus e jesuítas. Mas não só isso, fez crescer a “mitologia opusdéica” nos anos seguintes.
Robert Hutchinson, jornalista canadense, no livro O Mundo Secreto do Opus Dei, afirma que a organização tem nada menos que uma fortuna de 400 bilhões de dólares, e entre inúmero objetivos, essa grana preta teria sido usada para financiar o sindicato Solidariedade na Polônia, que teve uma atuação indispensável na derrubada do comunismo, nos anos 80. Isso, segundo ele, explicaria a amizade de João Paulo II, polonês não por acaso, com a organização. Tudo em sigilo, ainda afirma.
Making Off - Igreja dentro da Igreja
O Opus Dei cresceu em silêncio por 50 anos, mas isso mudara em novembro de 1982, quando João Paulo II tornou a Obra uma “prelazia pessoal”, figura de Direito Canônico, criada na década de 1960. Era dado à organização um grau de independência gigantesco, pois eles não mais obedeciam aos bispos de suas cidades, mas ao chefe supremo da organização, o chamado “Prelado”, que é ocupado hoje pelo espanhol Javier Echevarría, que não deve explicações a mais ninguém, somente ao papado.
O Opus tem um enorme poder na Cúria, que se deve a sua organização política. Conta com 20 membros nos altos escalões, contra 24 dos arqui-inimigos jesuítas.
Tamanha demonstração de poder da organização foi a beatificação e canonização de Escrivá, que rendeu a muitos cristãos liberais um profundo temor quanto ao rumo que a Igreja está tomando.
26 anos após sua morte, Escrivá ganhara uma auréola, o que fez o americano Kenneth Woodward acusar o Opus Dei de usar a influência para comprar tal atestado de santidade.
Para fazer uma comparação, Joana d’Arc teve que aguardar pacientemente, no Reino de Deus, por 6 séculos para então torna-se santa.
Ex-membros do Opus Dei, que conheciam Escrivá em sua intimidade foram proibidos de depor no processo de canonização, e por coincidência o arcebispo italiano Luigi de Magistris, que se opôs a decisão final de canonizar Escrivá, foi demitido pelo Vaticano.
O papa Bento 16, até agora, não demonstrou favoritismo à organização, como fez João Paulo II, mas, vale lembrar que ele nunca foi o mocinho conservador que é hoje.
Por falar nisso, disponível no site www.opuslibros.org os 60 mil itens no índice do Opus, algo que chamará sua atenção, é que existem lá dois livros de Joseph Ratzinger (mais conhecido como papa Bento 16)... São eles:
Tod un Ewiges Leben e Die Geschichtstheologie des Heiligen (“Morte e Vida Eterna” e “A Teologia da História de São Boaventura”), redigidos entre 1950 e 1970, quando o então papa era bem diferente do conservador que é hoje.
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3 Papearam...:
Sinistro tudo isso, mas o Bento até que tem cara d egente do mal, tenho medo desse cara, quem sabe ele pode sre um anti-cristo.
BLOGdoRUBINHO
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Pra mim o Papa ainda é o João Paulo...
xP
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